sábado, 23 de junho de 2012

SÃO JOÃO NA CAMBUÍ...


SÃO JOÃO PASSOU POR AI?



Quem duvidar que São João é uma festa maior aqui no Nordeste, muito maior, do que o Carnaval, basta circular por qualquer cidade, vilarejo, povoado, ou meia dúzia de casinha junta por ai. "A noite é de São João/Alegria no meu coração", canta nosso querido mestre Lua, o Luiz Gonzaga, que completaria 100 anos em dezembro. Fogueira, milho, canjica, licor, e aquele bando de criança queimando tudo que é tipo de fogos, impregnando o ar com um cheiro característico de pólvora é o que se encontra. Difícil vai ser achar alguém em lugar pequeno, com roupa furada ou remendada e dente pintado. Quem é tabaréu, sabe, que São João é festa para se colocar a roupa mais bonita para paquerar e ser paquerado. 

É festa de passar com um trio de sanfoneiro, de casa em casa, perguntando, São João passou por ai? E se não passou, aquela folia de gente entrando pela porta do compade e da comade para se deliciar com as bebidas e comidas. Se você topou com um palco, com uma festa de big atrações musicais, muito provavelmente comprou carnaval pensando que era São João. Se fosse vivo, o Rei do Baião, ainda centenário calaria as caixas megapotentes com um fole bem tocado.

Não queremos defender, aqui, festas juninas intocáveis, um regaste de como era antigamente, pois os tempos não voltam mais. Santo Antonio, São João e São Pedro nunca foram espetáculos, daqueles em que há um grupo representando e outro grupo de espectadores. Sempre foi uma confraternização, onde todos participam. Em tempos de pós-modernidade, com um mundo cada vez mais multipolar, e descentralizado, uma festa junina com seu espírito original, ainda que hibridizada com os retoques contemporâneos, seria uma própria revolução em festa, explosão de alegria, sabores e sensações. Por isso, vamos tomar o rumo da roça, e sumir no mapa, até São Pedro, pelo menos.

Queremos, sim, homenagear Luiz Gonzaga em seu centenário sem asfixiar seu patrimônio, e patrimônio do povo nordestino e brasileiro, em favor da pobreza estética e musical, da diversão instantânea e superficial, do lucro fácil e imediato. Aliás, é bom lembrar, o que quer dizer raiz e seu significado de profundidade. E para homenageá-lo, fazemos este pequeno alerta, de que a festa é outra, o São João entra junto com a exuberância dos fogos, a fumaça no nariz, com o licor de jenipapo na guela, o calor da fogueira e da paquera no corpo, o baião, o xote, o forró nos ouvidos vibrando o esqueleto todin num arrastar colado gostoso a noite inteira. "Se tem fogueira acesa, pode ter certeza, é noite de São João".

Aléxis Góis

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